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25 de abr. de 2011

Glória Feita de Sangue (1957), de Stanley Kubrick

Desde o título até a última cena, esta guerra kubrickiniana nos coloca no meio de fogo amigo. A primeira grande obra do diretor inglês é cortante. É triste. É revoltante. E tudo vai tão rápido, sem freios, que custa mesmo acreditar no desfecho. É menos agressivo e escancarado do que Nascido para matar seu filme feito no final dos anos 80, mas o poder dilacerante igual. Mesmo sem cor (filmado em preto e branco), sem as caras e bocas e as humilhações, Glória deixa um gosto amargo. Não tem nada de glória ali. E não é só!

Se em Nascidos... Kubrick nos mostra um pelotão, prestes a embarcar ao Vietnã, em treinamento sádico, regido por um coronel inescrupuloso, em Glória feita de Sangue assistimos os bastidores de um pelotão francês durante a Primeira Guerra Mundial, com a dura missão de tentar o impossível. Conquistar um território alemão sob forte e pesada artilharia. O fracasso da operação, previamente advertido, é posto na conta da tropa, comandada pelo Coronel Dax (Kirk Douglas), que teria recuado diante da ofensiva inimiga. A opção encontrada pelo Genereal Mireau, que ordenou o ataque suicída, é justificar o fracasso através da covardia de seus homens.
Levados à Corte Marcial para julgamento, sob acusação de insubordinação, três homens, escolhidos para servirem de exemplo ao pelotão, recebem a sua sentença: o paredão de fuzilamento. Ao assistir toda a cena do julgamento fica evidente que se trata de um jogo de cartas marcadas, cuja moral, a subserviência e a patente falam mais alto do que a própria vida. Para o alto comando do exército é mais fácil creditar o fracasso na lomba dos homens que recuaram em nome da vida e da insanidade do plano. Aonde já de viu desafiar uma ordem de um general em plena Guerra? "Missão dada, parceiro, é missão cumprida" já dizia um famoso bordão brasileiro e naquela época, não cumprir uma ordem singnificava a vala.

Em cada take, em cada segundo de apreensão não é possível imaginar que o destino de três homens tomaria o mesmo rumo. A esperança por uma interferência divina ou, o mais próximo de acontecer, interferência de um mortal, como o Coronel Dax, único que luta para tentar mudar a sentença da Corte Marcial, é aguardada mesmo após o brado oficial do carrasco “preparar, apontar, fogo”.

Ao final do filme, tome o tempo que for para digerir toda a história, reveja tal cena para entender e se certificar de que aquilo tudo realmente aconteceu. Garanto, sensações tão prosaicas como a raiva, indignação, justiça (nos dias de hoje seria vingança) ou outra vão lhe possuir. Sendo assim, o filme cumpre o seu papel, pois há quem diga que o cinema tem como objetivo te transformar e botar a cabeça pra pensar. Se é mesmo assim, esta película consegue, sem menor esforço, desativar o piloto automático em que se encontra o seu cérebro. Fluí de maneira bem simples, tão simples quanto puxar um gatilho e meter uma bala na cabeça. Glória Feita de Sangue é isso, uma bala na cabeça.

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