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28 de abr. de 2011

Pauta: Suicídio - Filme: Rede de Intrigas (1976), de Sidney Lumet

Em menos de um mês dois suicídios na mídia. Um badaladíssimo, censurado, com direito à carta de despedida e, até mesmo, tweet de despedida. A outra vítima, sem confete e sem direito a capa, é filha de um poetinha vagabundo. Há uma norma ética no jornalismo que confronta a idéia de se publicar notícias sobre suicídio. Esse tipo de informação é evitada pelos meios, pois suicídio é decisão única e exclusivamente pessoal. Há, também, aquela teoria fundamentada nas conseqüências causadas pelo livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, cujo suicídio do protagonista resultou, após leitura da obra, no suicídio de outros jovens na Alemanha durante o século XVII. Uma mente com tendências suicídas seria influenciada a colocar um ponto final em sua vida.

Badalar o suicídio, explorar a tristeza da família, divulgar à carta derradeira e procurar teorias para o ato tem tomado conta dos periódicos. E não é só quando se trata de uma celebridade. Vide o caso do assassino de Realengo, cujos grandes portais da internet se transformaram no primeiro vídeo-blog in memóriam já feito. Mostraram tanto sobre o tal - fotos, vídeos, textos - que suas idéias desconexas angariou seguidores. O sensacionalismo criou pequenos monstrinhos. O assassino de Realengo apareceu, pra alguns, como um líder. Um líder que combateu o “bullyng”. Basta ver aqui
Rede de Intrigas (1976), de Sidney Lumet
Por falar em in memoriam: Sidney Lumet, falecido há duas semanas.

Howard Bale, o profeta pós-Watergate

Li que muitos consideram Sidney Lumet, junto com Woody Allen, o cineasta que melhor filmou Nova York. Costumava mostrar o lado podre da cidade, o tal submundo. Mas, o filme em questão não se trata de Nova York. E sim, em como se tornar uma celebridade messiânica. Rede de Intrigas nos apresenta a um correto apresentador de telejornal, Howard Bale, que ao saber de sua demissão do programa, por conta do baixo indíce de audiência, tem um colapso nervoso ao vivo e anuncia que irá se suicidar. Ahn? Alguém ouviu o que ele disse? Ele disse que vai estourar os seus miolos? Tá no script do programa? O que fazer agora? Demissão? Como pode um discurso desse entrar nos lares americanos?
Na contramão de toda a bancada que pedia a cabeça do apresentador, uma voraz editora em busca do espetacular. Sim, a personagem de Faye Dunaway, quer chocar os espectadores. Não importa como. O que importa é o índice de audiência lá em cima e para que não haja traço, a idéia é explorar ao máximo a loucura do jornalista. Nada de informação precisa. O sensacionalismo suprime a informação. É a vitória do sensacionalismo. É a vitória da decadência moral da sociedade americana. Acostumados a assistir corpos putrefatos de seus “filhos” no Vietnã, agora, os lares, não tão doces assim, assistem às visões proféticas de um maluco. “Eu não agüento mais essa loucura” é o brado que se torna hit parade número um da moçada. Em tempos de Watergate, Vietnã e outras podridões, nada como um doido gritando, caindo no chão, erguendo as mãos aos céus e profetizando, para a sociedade americana adotar como novo herói da pátria.  
Bale vira sucesso. Ganha um programa próprio, cheio de outros novos oráculos. O mercado de previsão do futuro inflacionou. Nunca a América profetizou tanto. Suas frases e visões não incomodaram a nova direção da emissora. Muito pelo contrário. Os bambambãs - leia-se Robert Duvall, interpretando alguém tão ganancioso quanto Dunway - continuaram explorando a audiência através do colapso de Bale. Por trás dos bastidores, há embates éticos e morais que nos fazem entender em como a imprensa chegou ao que é hoje.  A figura da editora Diana (Faye) simboliza o que tende a se chamar de “Imprensa marrom”. O princípio básico de maquiável é a bússola orientadora da loira.
O sucesso de Bale, assim como qualquer outro tipo de sucesso, é sempre acompanhado da teoria gravitacional newtonniana, de que tudo que sobe, desce. A queda da audiência do programa, ocasionada por uma série de fatores, dentre eles os conflitos de interesse no próprio canal, derruba não só os índices do ibope. O final da obra de Lumet é a síntese de tudo o que aconteceu no filme. É como se fosse matéria de jornal, daqueles que se você espremer sai sangue. Através das últimas cenas  você entenderá como, onde, quando e por quê o sensacionalismo na mídia está ligado a uma rede de interesses. E é inevitável não lembrar de Malcolm X (Filme biográfico sobre o líder negro e dirigido por Spike Lee), ao final de Rede de Intrigas.

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